O que é o globale?

globale é um festival que propõe, através da exibição de filmes de ficção e documentário, construir momentos de debate com um público amplo sobre temas relacionados aos processos de globalização. É um festival sem fins lucrativos, não competitivo e que, portanto, não entrega prêmios nem cobra taxas de inscrição. globale nasceu em Berlim (Alemanha), em 2003, e segue sendo realizado até hoje com o propósito, inclusive, de que as sedes do festival sigam multiplicando-se, de forma a criar uma rede.

Atualmente, o globale acontece em três cidades alemãs, em Montevidéu (Uruguai), desde 2009, e também em Varsóvia (Polônia) desde 2010. Em 2011, o festival chegou a Bogotá (Colômbia) e ao Rio de Janeiro.

Os comitês organizadores em cada cidade-sede são compostos por um grupo heterogêneo de pessoas que colaboram de forma solidária na organização do festival. O grupo tem uma gestão horizontal e o compromisso de tomar suas decisões por consenso.

Se você também quiser colaborar ou saber mais sobre a edição carioca do festival globale, fale com a gente: globalerio@gmail.com

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

A globalização e as verdades

Essa semana, quem curtiu a nossa página no Facebook assistiu ao vídeo em que a contadora de histórias nigeriana Chimamanda Adichie fala sobre "o perigo de uma única história".

A fala tá dividida em 2 partes no Youtube:
Parte 1
Parte 2

A gente ficou pensando, pensando... Até as histórias sobre nós mesmos não são únicas. E, mais uma vez, Stuart Hall acrescentou "lenha" ao nosso debate.

No artigo A Centralidade da Cultura: notas sobre as revoluções culturais de nosso tempo, o jamaicano radicado na Inglaterra, destaca um fragmento que mostra o quanto a globalização problematiza as nossas identidades culturais, evidenciando as múltiplas narrativas que existem sobre nós e como elas se relacionam (colaborações e disputas de poder):

"Num artigo do The Guardian, Martin Jacques discutiu as imagens contrastantes da Inglaterra 'multicultural' e 'medieval' e das complexas linhagens históricas por detrás de cada uma delas que, segundo ele, apareciam recorrentemente nos discursos políticos dos dois maiores partidos da eleição geral de 1997:

'Há duas histórias da Grã-Bretanha. Uma fala dos radicais criativos; a outra, dos conservadores e respeitados. Ambas existem na psique nacional, ambas são partes autênticas do que somos, mas elas levam a compreensões distintas, uma oficial e convencional, a outra, não oficial e subterrânea. A cultura oficial recebe calorosamente Andrew Lloyd Webber, Cilla Black e Cliff Richard como autênticos ingleses: trata nossos criativos anarquistas tais como [John] Lennon e [Vivienne] Westwood como fenômenos, como excêntricos, observando voyeuristicamente suas vidas e atividades ao invés de considerá-las como um de nós.

De tempos em tempos, há um renascimento da energia cultural, sempre partindo da periferia ao centro. Este é um dos momentos. Na capital, isto se faz com a emergência de Londres como cidade global, talvez a mais global em todo o mundo, certamente a mais global da Europa. Londres está hoje mais aberta que nunca ao caleidoscópio de influências globais, da comida à música, das idéias aos negócios.


E acima de todas as pessoas: as minorias étnicas agora figuram em nossa vida cultural como nunca. Muitos dos maiores designers da London Fashion Week pertencem às minorias étnicas. Os imigrantes são frequentemente uma fonte de excepcional energia cultural. Nosso radicalismo cultural tem muito a ver com o fato de sermos tanto uma ilha quanto de sermos culturalmente permeáveis.
Pode-se pensar que esta explosão de energia chamaria a atenção de nossos políticos. De fato, John Major orgulhosamente vangloria-se da nova vibração londrina, e o sucesso de Tony Blair é em parte devido ao Britpop. Entretanto, para Major e Blair, o discurso agregador não apoiou-se nas questões raciais da cultura, mas na Inglaterra média, no modelo do conservadorismo respeitável. Em 1964, Harold Wilson fez mais que um aceno aos Beatles ... Blair e major preferiram seguir pelo caminho da cultura britânica.'" (Jacques apud Hall, pp.24-25)

Ressaltando o fato de ter sido escrito por um inglês, Martin Jacques, sobre uma Londres em 1997, o texto também é interessante para a gente pensar nos recentes acontecimentos na cidade global mais Cidade Global do Reino Unido.



Ref.: HALL, Stuart. A Centralidade da Cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso tempo. In: Educação & Realidade. 1997, vol. 22, nº02. pp.15-46.

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